Hoje em dia, somos cada vez mais conscientes do impacto das atividades humanas no meio ambiente. Enquanto o desmatamento e a crise climática ganham os holofotes, danos em menor escala também podem devastar ecossistemas únicos. É o caso dos desertos costeiros de neblina no Peru, onde um grupo improvável de botânicos e paramotoristas se uniu para mapear e proteger as espécies locais com o menor distúrbio possível.
A missão? Acessar regiões remotas sem danificar o terreno. Atualmente, veículos 4×4 são usados para essa tarefa, mas esses métodos são caros, emitem grandes quantidades de gases de efeito estufa e deixam rastros que atraem aventureiros curiosos para esses habitats delicados. Foi então que os pesquisadores decidiram inovar e convidar os paramotoristas, capazes de voar sobre essas áreas e coletar amostras de maneira muito menos invasiva.
Diminuindo os impactos no deserto
O uso de 4x4s em desertos pode causar compactação do solo, prejudicando a absorção de umidade e contribuindo para tempestades de poeira. Essa prática, chamada de “Toyotarização”, é especialmente prejudicial para as “lomas” peruanas — áreas de vegetação alimentadas pela neblina e lar de mais de 1.700 espécies de plantas. Segundo Oliver Whaley, pesquisador honorário do Royal Botanic Gardens, muitos entusiastas de veículos off-road acabam criando novas trilhas sem saber que estão destruindo espécies ameaçadas.
“Trabalhar no deserto é frustrante quando vemos como os veículos destroem as frágeis crostas do solo”, afirma Whaley. Com o aumento do uso de SUVs, ficou ainda mais comum ver motoristas traçando novos caminhos e se aventurando em áreas delicadas. Isso levou a equipe a buscar alternativas menos agressivas, resultando no conceito de “botânica extrema” — uma abordagem que alia a tecnologia dos paramotores à biologia.
Com os paramotoristas a bordo, os pesquisadores treinaram os pilotos para coletar amostras de DNA vegetal e registrar informações com precisão. A metodologia se mostrou não apenas mais eficiente em termos de tempo e recursos, mas também reduziu o impacto ambiental das expedições. Afinal, os paramotores não deixam marcas, nem estradas que poderiam fragmentar ainda mais a biodiversidade.
Parceria inovadora
Os resultados foram impressionantes. Em comparação com os métodos tradicionais, os paramotoristas completaram missões até 10 vezes mais rápido e causaram 1 mil vezes menos impacto na superfície. Para as missões mais longas, a equipe aérea produziu até três vezes menos emissões de carbono. Isso é crucial para ecossistemas como os das lomas de Tillandsia, onde o uso de veículos é inviável devido à vegetação única, que reflete a luz de uma maneira que impede estudos via satélite.
Whaley explica que, além de maior eficiência, os paramotoristas tiveram uma vantagem extra: a possibilidade de acessar pontos remotos sem interferir na paisagem e sem atrair visitantes indesejados. “Ao final, vimos que essa combinação entre ciência e esportes radicais pode ser um modelo para outros entusiastas da natureza”, reflete o pesquisador.
Com o sucesso da colaboração, a esperança é que mais pessoas se sintam inspiradas a contribuir para a preservação ambiental. Seja em terra, ar ou água, o envolvimento consciente pode ajudar a monitorar e proteger esses lugares únicos, e isso, quem diria, pode ser tão radical quanto o próprio voo.