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Série “Cidade de Deus – A luta não para” é tema de case na MAX 2024 | ASN Minas Gerais

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Para fechar o segundo dia da 9ª edição da MAX – Minas Gerais Audiovisual, organizado pelo Sebrae Minas, uma equipe de peso foi convidada para discutir um case de sucesso. Produtores e roteiristas da série “Cidade de Deus – A Luta Não Para” falaram do processo criativo e os desafios envolvidos na adaptação de um dos maiores sucessos do cinema brasileiro para a televisão, agora em formato de série pela HBO.

Mais de 150 pessoas assistiram o bate-papo e interagiram com Gustavo Gontijo, produtor executivo de desenvolvimento da O2 Filmes; Estevão Ribeiro, roteirista; e Renata Di Carmo, roteirista. Carla Domingues, produtora criativa, foi responsável pela mediação do painel.

A roteirista Renata Di Carmo conversou com exclusividade com a Agência Sebrae de Notícias e contou um pouco sobre o desenvolvimento da série, o aprofundamento dos personagens e as temáticas abordadas.

Renata di Carmo - roteirista da série Cidade de Deus - A Luta não Para
Renata di Carmo – roteirista da série Cidade de Deus – A Luta não Para

ASN: Adaptar um clássico do cinema brasileiro como Cidade de Deus é uma grande responsabilidade. Como foi o processo criativo inicial para manter a essência do filme original e, ao mesmo tempo, explorar novas perspectivas na série?

R.C.: O Cidade de Deus é um marco no nosso cinema e no mundo. Aonde a gente vai, as pessoas têm essa referência do filme. Primeiro, mergulhamos no filme novamente. Foi um processo de eleger o que queríamos manter, o que era importante, manter e subverter, criar outros pensamentos e lógicas. A partir daí, começamos a identificar o que tinha potencial, mas que, de alguma maneira, estava subaproveitado, porque em qualquer obra a gente tem milhares de ideias e de possibilidades e você não consegue dar vazão a tudo. Então, por exemplo, existem personagens no filme que estavam ali de forma muito pontual e a gente olhou também para esses personagens como possibilidades de expansão. Construímos um pensamento sobre a época, tanto quando o filme foi rodado e 20 anos depois. Começamos a fazer testes e conversas de que maneira queríamos construir essa história, quais temas iríamos explorar e as maneiras de olhar para a Cidade de Deus, a comunidade mesmo, como um lugar de possibilidades.

ASN: Quais foram os principais desafios ao transpor o universo de Cidade de Deus para uma série? Como você equilibrou a necessidade de trazer novidade para o público e, ao mesmo tempo, manter a autenticidade do material original?

R.C.: Os principais desafios foram fazer escolhas e eleger o que a gente julgava correto para construir a série, porque é um universo extremamente rico. Nós estamos lidando com um filme amado e criticado por gerações, então tinha um peso nessas escolhas, que podiam, inclusive, ter uma rejeição muito grande. Há uma série de questões que são pautas de muitas reflexões, como a construção imagética, social, a representação dos corpos negros, do feminino. É um desafio lidar com isso e com as expectativas do público e as nossas também.

ASN: A série apresenta novos personagens e expande as histórias dos que conhecemos no filme. Como foi o processo de desenvolvimento desses personagens e como eles ajudam a enriquecer o universo de Cidade de Deus?

R.C.: Quando fui convidada para integrar o time, entrei na sala de roteiro com alguns pensamentos e, depois eu vi isso reverberando também dentro do processo de criação com os meus colegas. Uma dessas ideias era representar a Cidade de Deus como um lugar de potência e de possibilidades e não apenas no recorte do crime e da marginalidade. A outra era sobre a representação do feminino, que tem uma diferença muito grande do que é o filme e do que é a série. E a gente queria inverter essa lógica de quem é o bandido. Fizemos um giro na série pra mostrar um outro tipo de bandido: o da comunidade, o miliciano e aquele que está nas nossas escalas de representação política. As nossas escolhas se movimentaram muito em cima do que a gente queria manter do filme e o que costurava também para dentro da história do personagem principal, o Buscapé.

ASN: Algum momento ou experiência na sala de roteiro ou durante a produção te marcou?

R.C.: As coisas que mais me deram prazer foi perceber que as propostas em relação à representação das personagens femininas mais complexas foram compradas e absorvidas E pensar esses personagens como personagens tridimensionais e que têm relações profundas. Quando você olha para os personagens da comunidade, como a Berenice, a Cíntia, o Bradock e o Curió, eles são pessoas que têm uma profissão, que amam, têm crises, fissuras, são personagens humanos. Eles não estão ali como uma representação alegórica de alguma coisa. Eles são personagens complexos. Essa construção foi também algo que me deixou feliz no processo.

ASN: Por que transformar o filme Cidade de Deus em série?

R.C.: Isso foi uma decisão que passou pela O2 Filmes, com o autor Paulo Lins. Quando eu fui chamada para compor a sala de roteiro, o desejo dessa construção já existia e eu imagino que seja pelo apelo do filme, que contribui para repensar questões sociais e políticas. Eu acho que isso pode ter construído um pensamento de que era um bom momento de voltar ao filme Cidade de Deus. O audiovisual está passando por um processo de remakes. Então, é nesse momento que as pessoas voltam a olhar para as novelas e os filmes de sucesso.

Sobre a MAX

Desde 2016, a MAX é considerada o maior evento de Minas Gerais e um dos eventos mais relevantes do Brasil com foco no mercado audiovisual. Seus pontos fortes são mediar os encontros entre produtores e exibidores, além de debates sobre o futuro do setor. É considerado o maior salão de negócios mineiro, inteiramente dedicado à promoção de agentes econômicos da indústria audiovisual.

A realização do evento pelo Sebrae Minas tem o objetivo de fomentar a indústria de produção de conteúdo para mídia e entretenimento, ampliar a geração de negócios do audiovisual e aumentar a competitividade dos empreendimentos, por meio de qualificação técnica. A curadoria da MAX é feita pela BRAVI – Brasil Audiovisual Independente, associação que reúne 670 empresas produtoras do país.

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