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A matemática dos gatos: físico diz ter decifrado movimentos felinos

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Gatos, além de misteriosos e donos da internet, agora têm um lugar também na física. Foi o pesquisador espanhol Dr. Anxo Biasi, do Instituto Galego de Física de Altas Enerxías (IGFAE), quem propôs uma equação capaz de descrever como os felinos se movem ao redor dos humanos. 

Inspirado pelo comportamento do próprio gato, Eme, Biasi desenvolveu um modelo matemático que traduz o cotidiano de convivência com gatos em conceitos de mecânica clássica. Sua intenção era clara: tornar a física mais acessível e cativante para o público leigo, usando a curiosidade natural que os felinos despertam para explicar uma disciplina que costuma intimidar.

Cálculo felino

A ideia, curiosamente, nasceu como uma brincadeira para o Dia da Mentira, mas Biasi logo viu o potencial didático da proposta. Partindo da hipótese de que os gatos “sentem” uma força ao redor das pessoas, ele identificou sete padrões no comportamento de Eme para criar um modelo que descreve como os gatos reagem à presença humana. 

Segundo Biasi, o gato, como uma “partícula pontual”, interage com o campo “induzido” pelo humano, modelado em termos de forças e atritos, seguindo as leis da física de Newton. Ele define a posição do humano como x=0 e a posição do gato como variável ao longo do tempo, formando a base da primeira equação.

x=0 quando a posição do gato é x. Se m é a massa do gato, e ? o coeficiente de atrito criado pela fadiga do gato, Biasi começa com uma fórmula básica. (Fonte: IGFAE/ Divulgação)
Na fórmula proposta por Biasi, m é a massa do gato e ? o coeficiente de atrito criado pela fadiga do gato. (Fonte: IGFAE/ Divulgação)

O físico abordou desde o movimento relaxado dos gatos ao se aninharem no colo do dono até os famosos “zoomies” — aqueles momentos de frenesi em que correm pela casa sem aparente motivo. No modelo de Biasi, a ação de se acomodar no colo se encaixa em uma dinâmica de “baixa energia”, enquanto os zoomies exigem um componente de aleatoriedade para refletir o comportamento imprevisível dos felinos. 

Para modelar isso, ele incluiu um termo extra na fórmula, simulando uma força aleatória que dita a direção dos zoomies, já que nem o próprio gato parece saber para onde está indo.

Outro aspecto interessante é o ronronar que, segundo Biasi, funciona como um “autoreforço”: ao ronronar, o gato estimula o humano a acariciá-lo mais, criando uma estabilidade temporária entre ambos — previsível até o momento em que o gato, sem aviso, decide partir.

Em termos físicos, isso demonstra a aplicação de forças repetidas e reforçadas, ajudando a criar o que Biasi chama de “sistema estável”.

Física do cotidiano

A imagem é uma interpretação da interação gato-humano. Em (a), o gato está apegado à pessoa, enquanto em (b) a pessoa é um completo estranho para o gato. Em ambos os casos, o gato é ilustrado em repouso em três pontos de equilíbrio? .(Fonte: Anxo Biasi/ Divulgação)
A imagem é uma interpretação da interação gato-humano. Em (a), o gato está apegado à pessoa, enquanto em (b) a pessoa é um completo estranho para o gato. Nas duas situações, o gato é ilustrado em repouso em três locais, que são algumas das possibilidades. (Fonte: Anxo Biasi/ Divulgação)

Biasi reconhece as limitações do modelo, afirmando que ele não se aplica a todos os gatos, cada um com suas particularidades. Além disso, ele deixa de lado comportamentos “quânticos”, como o “desaparecimento” de um gato. A mecânica clássica foi escolhida por ser a forma mais prática de trazer seu estudo para o cotidiano e ilustrar, de forma divertida, a construção de modelos físicos.

Publicada no American Journal of Physics, a equação de Biasi visa atrair novos estudantes ao apresentar conceitos complexos de forma acessível. Em vez de explorar grandes mistérios do universo, ele usa a física para explicar o comportamento cotidiano dos gatos, ressaltando que “às vezes podemos relaxar e aplicar a física ao dia a dia – e isso pode ser muito divertido!”

Por trás de toda a leveza do artigo, há também uma ferramenta didática poderosa, especialmente para cursos introdutórios de física, onde muitas vezes faltam exemplos visuais e intuitivos. A partir dos comportamentos de Eme, Biasi conseguiu demonstrar como até movimentos imprevisíveis podem ser abordados pela física, ilustrando aos alunos o pensamento por trás da construção de modelos. 

O uso da equação felina como um recurso de ensino traz uma nova perspectiva sobre a mecânica clássica, mostrando que o processo de modelagem não precisa ser exclusivo de laboratórios e estudos complexos, mas pode também surgir no sofá, enquanto um gato cochila ao lado.

Ao modelar o comportamento de Eme, o Dr. Biasi não apenas desvendou um pouco mais do mistério felino, mas também criou um exemplo encantador do poder da física para explicar o mundo ao nosso redor – mesmo quando esse mundo inclui ronronares, espreguiçadelas e, claro, as escapadas imprevisíveis de nossos companheiros peludos.

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