Uma pesquisa publicada recentemente na revista Nature Communications explica como foi localizada a mina de ocre mais antiga do mundo. Para quem não liga o nome à pessoa, o ocre é simplesmente um dos pigmentos mais utilizados pelos seres humanos, desde pinturas e rituais do Paleolítico Superior a blushes naturais do século 21.
Falando de uma maneira simples, podemos dizer que o ocre é uma terra natural colorida, composta principalmente por argila e óxidos/hidróxidos de ferro. Ele pode ser usado diretamente como pigmento, sem passar por nenhum processo extrativo, e produz cores que variam do amarelo ao vermelho escuro e marrom
Datada de cerca de 48 mil anos, a mina mais antiga do mundo foi descoberta na Caverna do Leão, um sítio arqueológico localizado em Ngwenya, no Essuatíni (antiga Suazilândia). Para a pesquisa, os autores criaram uma espécie de impressão digital geoquímica do ocre da caverna africana.
Identificando a origem do ocre
Para identificar a origem do ocre, os pesquisadores tornaram radioativas pequenas amostras de artefatos do pigmento. O processo é feito de forma segura por irradiação de nêutrons e alguns dos produtos resultantes podem ser radioativos e, quando isso ocorre, esses materiais começam a decair, emitindo energias características.
Medidas, essas energias entregam informações sobre a origem do material e como ele foi criado. Com isso, é possível reconstruir as rotas antigas de comércio e transporte dos artefatos.
A equipe também utilizou uma tecnologia avançada de laser (espectroscopia Raman) que faz as moléculas vibrarem e, como cada mineral vibra de forma diferente, pode ser identificado na amostra.
Importância da localização da fonte mais antiga de ocre
Usado há milhares de anos, o ocre adquiriu um significado cultural, histórico e espiritual em diversas sociedades e, com isso, ofereceu aos pesquisadores algumas pistas importantes sobre formas de organização das antigas civilizações, suas crenças e práticas rituais, e o próprio desenvolvimento da expressão artística no mundo.
Dessa forma, se tornou um dos materiais mais importantes da história humana. Além da relevância cultural milenar em diversas civilizações, o pigmento se destaca pela sua composição na produção natural de diversas cores. Mas, além da estética, o ocre tem também propriedades antibacterianas, sugerindo um possível uso medicinal no passado.
Para a coautora Brandi MacDonald, da Universidade de Missouri nos EUA, “Entender como essas pessoas extraíram, processaram, transportaram e usaram ocre fornece pistas sobre as primeiras inovações tecnológicas e ajuda a traçar a história da criatividade e do simbolismo humanos”, conclui a antropóloga.