Se você achava que os maiores mistérios dos mares estavam reservados para filmes de piratas, pense de novo. Filipe Castro, arqueólogo náutico e pesquisador do Centro de Estudos de História, Territórios e Comunidades (CFE), acredita ter encontrado nada menos que uma embarcação da terceira armada de Vasco da Gama. A descoberta foi feita nas águas do Quênia, na região de Malindi, e pode ser uma conexão direta com a épica história das navegações portuguesas.
Esses navios, conhecidos como galeões, foram projetados a partir de 1518 para enfrentar os desafios dos oceanos Índico e Pacífico. Inspirados em embarcações mediterrâneas, eram verdadeiras fortalezas flutuantes, equipadas com artilharia para combates em 360 graus. Rápidos, resistentes e bem armados, eles se tornaram protagonistas das expansões marítimas europeias no século 16. Um deles, o S. Jorge, comandado por D. Fernando de Monroy, desapareceu em 1524, e pode ser exatamente esse o navio encontrado.
Uma colcha de histórias submersa
Em 2013, o arqueólogo marítimo Caesar Bita liderou uma campanha arqueológica no local do naufrágio, escavando uma trincheira que revelou a origem portuguesa do navio. Foi aí que Filipe Castro entrou em cena, dando início a uma colaboração entre especialistas de Portugal e do Quênia. A equipe, composta pelos pesquisadores José Virgílio Pissarra e Tânia Casimiro, está analisando os artefatos e avaliando o potencial do local para entender melhor a construção naval do período.
Os vestígios da embarcação estão a pouca profundidade e, felizmente, protegidos pela comunidade local. Esse envolvimento dos moradores faz parte de um projeto de arqueologia comunitária que busca não apenas preservar, mas também registrar e interpretar os achados. É uma forma de garantir que o patrimônio histórico seja acessível e valorizado por todos.
Embora ainda não seja possível confirmar a identidade do navio, as evidências sugerem que pode se tratar do S. Jorge ou da Nossa Senhora da Graça, ambos naufragados na região durante o século 16. O cruzamento de datas dos artefatos encontrados com registros históricos aponta para um naufrágio ocorrido no início daquele século, durante uma viagem rumo à Índia.
O valor histórico por trás das águas
Mais do que um monte de destroços, esse possível navio representa um testemunho físico da presença portuguesa nas águas quenianas. Os restos mortais de uma embarcação como essa podem oferecer insights preciosos sobre a tecnologia naval da época, as rotas marítimas e até os desafios enfrentados pelos navegadores.
Segundo Filipe Castro, a descoberta não é apenas científica, mas também simbólica. “Esse achado conecta diretamente com um dos momentos mais importantes da história marítima de Portugal”, explica o arqueólogo.
Enquanto as investigações continuam, a expectativa cresce para que o navio traga à tona não só sua identidade, mas também os segredos submersos de uma era de exploração e conquista. É mais uma prova de que o fundo do mar ainda guarda histórias fascinantes para contar.